28 de maio de 2008

Anac: Tudo está "sob controle"

A cada dia fico mais atônito com a Anac. É impressionante como a diretoria da agência insiste em afirmar que a aviação brasileira está bem, voando em céu de "brigadeiro", como disse um de seus diretores, Alexandre Barros. Eles acham que a aviação está tão bem que até querem estabelecer, o quanto antes, a política de céus abertos (Open Skies).

A Anac, assim como esse governo, continua querendo demonstrar que tudo está "sob controle", mas qualquer um com um mínimo de conhecimento do dia-a-dia do setor sabe que a coisa não está tão bem assim.

Trabalhar de verdade na infra-estrutura do setor, com aeroportos mais bem equipados e criar medidas que tornem as companhias aéreas mais competitivas, como diminuir a carga tributária, facilitar e desonerar importação de peças e aeronaves, fazendo com que mais municípios sejam atendidos por vôos comerciais, deveria ser a primeira etapa, bem antes de se chegar a uma política de Open Skies.

Para mim, as respostas para os problemas do setor existem, mas para que sejam efetivamente aproveitadas, a Anac precisa ser humilde, adotando uma postura muito mais transparente e colaborativa. Ficar dizendo que a agência deve ter uma relação mais próxima com a sociedade me parece algo hipócrita, o que aliás, é bem do estilo desse governo. Desde que foi formada, a Anac nunca teve, de fato, uma relação mais próxima com a sociedade, e nem parece caminhar para isso.

Muito mais importante do que apenas se aproximar, tem que haver colaboração, ou seja, compartilhar as informações. Isso deve ser feito porque a colaboração permite a exposição dos riscos ocultos, permitindo, assim, uma aceleração na inovação, o que será fundamental na solução dos grandes problemas, os quais trazem conseqüências graves para a economia e sociedade. Essa nova forma de encarar os problemas cada vez mais complexos do mundo é proposta e abordada pelo livro Wikinomics - Como a Colaboração em Massa Pode Mudar o seu Negócio, de Don Tapscott e Anthony D. Williams (diretores da empresa de consultoria e inovação New Paradigm, no Canadá).

O setor aéreo brasileiro possui problemas muito sérios de tal modo que há necessidade de mais profissionais e recursos do que a Anac possui. Por tudo isso, somente com uma colaboração mais radical, a qual permite que agentes externos se transformem em colaboradores, ao proporem soluções com base em dados tornados públicos a respeito do setor, será possível solucionar os enormes problemas da aviação brasileira. A diretoria da Anac precisa ser inovadora, tornando pública, verdadeiramente, a realidade, pois somente assim conseguirá atrair as mentes mais brilhantes da sociedade como colaboradores externos.

Abaixo, segue notícia publicada no site da Abetar sobre a divergência da Anac com a Aeronáutica a respeito dos problemas da aviação.

Aeronáutica e Anac divergem sobre futuro da aviação
Trabalhando com o mesmo objetivo - servir a sociedade - e tendo o povo brasileiro como principal interessado, representantes da Aeronáutica e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) participaram do painel sobre o futuro da aviação brasileira.

O brigadeiro Ramon Borges defendeu que a capacidade operacional dos aeroportos está abaixo da média mundial, já o diretor da Anac, Alexandre Barros, disse que o setor voa em céu de brigadeiro.

Borges começou seu discurso lembrando que as pistas de pouso e decolagem são menores que as dos principais aeroportos do mundo. "A gente precisa trabalhar muito para chegar na infra-estrutura que os principais aeroportos da Europa e dos Estados Unidos têm", disse.

Para ele, além de melhorar toda a estrutura aeroportuária é preciso fazer um trabalho de conscientização com os pilotos: "Em Londres uma aeronave pousa com uma milha de distância entre outro avião, no Brasil um piloto arremeteu vôo com três milhas", explicou.

Alexandre Barros se defendeu dizendo que a situação hoje está "totalmente sob controle". "Em relação aos atrasos de vôos nós estamos à frente dos Estados Unidos, isso é um bom sinal", explicou para uma platéia composta por integrantes do trade. "Nunca teremos 100% dos vôos saindo no horário", concluiu.

Barros propôs uma relação mais próxima entre a Agência e a sociedade. "Isso não quer dizer que vamos responder todos os problemas, mas vamos ouví-los", enfatizou.

Um comentário:

Capitu disse...

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